Zine
A cada curva, um desabafo
Nas voltinhas da iaanks, muitos sentimentos, vivências e embates internos se escondem. A artista, que desafia o status quo do desenho no ensino da arte, fala sobre o cotidiano, frustrações da vida adulta e conquistas também: “Cada desenho uma curva, cada curva um desabafo, um deboche, um desespero, uma afeição”.
Quer descobrir mais ainda sobre a história dela? Se liga no papo que rolou:
Como você definiria o seu estilo?
Acho que não consigo dizer de modo específico onde minhas ilustrações se encontram dentro de um estilo ou estética. Penso minhas produções gráficas como extensão das reflexões que faço diariamente, seja observando os arredores que se distanciam de minha realidade ou as semelhanças entre mim e meus pares. Deixo o desenho me atravessar — e ele faz um rebuliço danado, viu? Vejo o desenho como manifesto, de lutas internas, de pautas coletivas, do desconforto e de desejos incansáveis… Nesse manifesto venho traçando linhas contorcidas que costumo chamar carinhosamente de “desenho de curvinhas”.
Muitas pessoas se identificam com a sua arte. Pra você, como é essa troca com quem te acompanha nas redes sociais?
Me sinto muito acolhida por quem me acompanha nas redes. Se tu que está lendo isso me segue, tome aqui um cheiro no cangotinho! Boa parte das minhas ilustrações falam sobre saúde mental ou frustrações da vida adulta, coloco muito dos meus anseios e vulnerabilidades naquilo que produzo, além apenas de falar sobre o que conforta. Ouço bastante que minhas ilustrações são “bad vibes”, apesar de fofas, e acho massa manter esse equilíbrio. Percebo com essas afirmações que as primeiras trocas com quem me acompanha sempre partem da identificação pelo desenho de “pequenas” situações desesperadoras, narradas com certo deboche em tons pastéis e inundadas por essa tal fofura que ameniza um pouquinho o retrato de um cotidiano caótico, especialmente em tempos de pandemia e de descaso nas políticas públicas, na educação e saúde. Apesar de caricaturar situações que trazem ansiedade e medo, penso na ilustração como um lugar onde podemos lamentar, reclamar, reivindicar, rir e chorar dos desgostos da vida de modo sincero, juntas, como tenho feito com quem chega na minha página.
Ser artista é…?
Se enrolar em muitos novelos, tentar desatar os nozinhos e se enrolar ainda mais.
Seriam as pessoas artistas, grandes felinos? Não, os gatos não merecem esse desacato!
Uma vez, ouvi Edith Derdyk dizendo que “a linha é errante porque nós somos errantes”. Isso me fez voltar duas casas e pensar novamente sobre conceitos que definem o que é ser artista ou como ser artista. Os mesmos conceitos que separam artista de artesão, que definem o que pode ser lido como bonito ou feio, que prosperam em ambientes pouco democráticos ou inacessíveis às pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Muitas implicações sobre “ser artista”, vamos voltar pra história dos gatos? (risos)
De onde veio o apelido?
Da época da faculdade de Artes Visuais. Logo no primeiro período, começaram a me chamar de iaanks. Sempre que eu falava meu nome, alguém entendia errado. “Como tu se chama?” “Iara?” “Ilana?” “Ivana?” “Lana?”. Poucas vezes acertaram de primeira. O apelido apareceu de supetão, era “ieenques” pra lá, “ianques” pra cá, até chegar em “iaanks”, com i minúsculo mesmo, que foi a forma como me batizaram por aqui por Goiás. Hoje já nem lembro do meu nome do registro!
Em relação ao seu processo de criação, é mais fácil criar de um lugar feliz ou de tristeza?
Acho que as respostas anteriores respondem bem essa pergunta. Bad vibes, pessimismo e desânimo são palavras-chave recorrentes nas minhas produções, na infância eu desenhava e escrevia bem mais quando estava mal-humorada ou triste, do que quando estava eufórica de felicidade, isso continua. O terreno movediço dos lugares que desconfortam sempre traz possibilidades incríveis de pensar e fazer desenho.
Onde você quer chegar com o seu trabalho?
Quero levar meu trabalho às estantes de livrarias independentes, às salas de aula de escolas públicas das quais pude estagiar e acompanhar os processos de produção de desenho, às pessoas que deixaram de desenhar por desestímulo de familiares ou da própria escola, às pessoas que deixaram para trás suas produções autorais, às professoras de artes de escolas municipais e estaduais, em condições precárias para a prática do desenho. Quero que meu trabalho chegue onde as pessoas queiram desenhar juntas.
Tem algum artista (ou mais) pra recomendar pra gente e pra galera?
São tantas as mulheres artistas que admiro e me inspiram, artistas brasileiras: Tais
Koshino, Fabiane Langona, Rosana Paulino, Helena Obersteiner, Mitti Mendonça, Rita Fittipaldi, Fernanda Bornan, Flavia Brioschi, são muitas. Da gringa: Tara Booth, Jennifer Xiao, Power Paola, Sole Otero, Dena Zilber, Faye Moorhouse.
Para acompanhar o trabalho de iaaanks no Instagram, cola aqui: instagram.com/iaanks/