Zine
De carne, ossos e muita criatividade
Sol, chuva, asfalto, muita arte e um turbilhão de novos acontecimentos a cada segundo. Em meio ao caos e correria de São Paulo, em 1989, a cidade dava início a uma nova história – a de Luan Zumbi.
O paulistano, que é famoso nas redes por criações super coloridas e com uma pegada meio trash, conversou com o time POSCA e revelou que gosta de contar que nasceu no mesmo dia que a Frida Kahlo e que, além da paixão por arte e sobrancelhas bem grossas, os dois têm em comum, também, uma entrega completa em seus trabalhos mais íntimos.
Há quanto tempo você trabalha com arte? Quando e como começou a sua história com a criatividade?
Eu pintei e desenhei desde muito criancinha até a adolescência. Depois, com 18 anos, em 2008, entrei pra faculdade de moda e minha liberdade de criar foi cortada pela metade, mas mesmo assim foi nesse momento que comecei a desenhar e pintar nas minhas primeiras roupas pra conseguir acompanhar (sem dinheiro) as mudanças de looks e estilos dos meus amigos e colegas de classe a cada seis meses (risos). Depois da faculdade, em 2012, trabalhei pra Juss, uma estilista (hoje, amiga) que me ensinou que eu podia ser artista para além das roupas também. Foi aí que considero ter me tornado um artista e, desde então, não parei mais de criar, sempre misturando e separando o mundo da moda e o mundo da arte.
O que veio primeiro: a paixão por moda, o amor pela ilustração ou esses dois
elementos surgiram juntos?
Sempre primeiro o amor por ilustrar. Me considero artista porque eu pinto em qualquer que seja a superfície, parede ou vestido. Gosto de falar que uso a moda pra fazer o que ela mais odiava fazer até pouco tempo (em sua maioria), que é incluir, ensinar e ser politizada. Beleza por beleza é fácil de se fazer gostar. Eu gosto de fazer a galera pensar e provocar com pinturas em camisetas que serão usadas às 18h na estação da Luz ou qualquer outro lugar do Brasil onde uma pessoa possa ser atingida pela minha pintura.
Os seus trabalhos sempre acompanham traços bem demarcados e cores fortes. Como você definiria o seu estilo? De onde veio tudo isso?
Eu acho que identifico meu trabalho como Pop Art. Além da estética, eu pinto coisas que não deixam dúvidas do que são pra ser. A ideia é realmente ser entendido de forma popular, você não precisa entender nada sobre arte pra saber o que se passa por ali. Eu me identifico muito com o trabalho da Frida pra me expressar e amo demais o trabalho e ativismo do Keith Haring, são minhas maiores inspirações.
Qual é a maior mensagem que você quer passar para as pessoas por meio da sua arte?
Acho que o que mais meu trabalho ensina diretamente é sobre respeitar a população LGBTQIAPN+, seja você quem for, depois tento incluir corpos e cores diferentes nesse discurso, e por fim respeito aos animais e ao meio ambiente pro mundo não acabar tão rápido (como infelizmente está acabando).
Quais são as suas maiores inspirações?
Além da Frida e do Keith, me inspiro muito em monstros e zumbis de filmes de terror, estudo anatomia e admiro demais os animais. Junto disso tudo eu estou sempre estudando a história do movimento LGBTQIAPN+, e infelizmente me mantenho sempre atualizado nas notícias pelo mundo. Tudo isso faz parte da minha vida de alguma forma. Estudar anatomia, por exemplo, foi algo que comecei a fazer por não ter muita sorte, mas sim por já ter feito quatro cirurgias na minha vida de 33 anos. A última delas, inclusive, fez eu decidir me tornar vegano e com isso cresceu essa minha admiração e respeito pelos animais. E assim vai indo, fico curioso pra saber o que vai me inspirar daqui 10 anos.
Como é o seu processo criativo?
Depende muito, às vezes preciso me forçar a criar algo com muita dificuldade e às vezes uma notícia me joga pra dentro do ateliê e sai uma pintura. Sentar na cadeira, abrir um pote de tinta e dar uma pincelada sem saber o que fazer também é um jeito de começar um trabalho, acontece bastante. Uma coisa que acham estranho é que prefiro trabalhar no silêncio absoluto do que com música, é meio perturbador porque a cabeça não para de pensar nem um segundo, mas assim vou resolvendo muitas coisas e tendo novas ideias.
Onde você sonha chegar? Ou já encontrou e está neste lugar?
Jamais! Meu maior sonho é continuar conseguindo viver apenas do meu trabalho de arte até meu último dia. Nesse caminho quero fazer mil coisas que já tenho planejado e coisas que nem sei ainda se existem.
Por que Zumbi?
Na faculdade, lá por volta de 2010/2011, quando teve uma explosão de filmes e séries de zumbis, eu e meu melhor amigo decidimos fazer nosso TCC sobre esses mortos-vivos. Moda era pra ser um curso de liberdade de expressão criativa, mas não foi esse o caso e acabamos sendo reprovados com a frase “Vocês falam de zumbis como se eles existissem!”. Hoje eu dou risada, mas na época fiquei bem triste de ter que passar mais um ano tendo que criar dentro dos limites que eram impostos. Depois disso, tudo que eu fazia eu colocava zumbi no meio, e não foi diferente quando fiz minha conta no Instagram. Quando vi, já estava todo mundo me chamando de zumbi e passei a assinar meus trabalhos assim, como um comedor de cérebros!
Pra você, arte é…
Uma das formas mais eficientes de se educar um povo, pensando no coletivo, e pra mim eu vejo como refúgio e uma necessidade. A cabeça do ser humano é uma doideira, além da terapia todo mundo deveria se expressar de alguma forma artística, faz bem demais! E arte é legal demais!
Para conhecer o trabalho do artista na íntegra, corre pro Instagram: instagram.com/luanzumbi/.