Zine
De coração aberto pro mundo
Letícia, Lelê, Lelex. A artista, que vibra cores e grita por expressão, cresceu cercada de inspiração e com criatividade de sobra. Com os pés firmes na arte do graffiti, ela conversa com o mundo por meio de sentimentos, mensagens estimulantes e muitos traços. Batemos um papo com a artista, que compartilhou com nosso time um pouco do seu processo criativo e seu caminho pelas artes. Vem mergulhar nessa com a gente:
Quando começou sua história com arte e criatividade?
Nem sei como definir isso, pois desde que me conheço por gente estou criando. Quando criança, eu gostava de fazer maquetes com cartolina (fazia prédios, árvores com papel crepom etc). Na adolescência, comecei a costurar e a desenhar looks, o que me levou a cursar moda (sou formada em Design de Moda com bolsa do Prouni, tenho muito orgulho disso). Na faculdade, tive contato com história da arte, técnicas de desenho, fotografia, conceitos de design e tudo mais, e acho que foi ali que comecei a desenvolver essa consciência sobre ser artista. Mas, foi com o graffiti que entendi realmente isso.
E quando você se descobriu no graffiti?
Foi em 2020, e esse início se divide em duas etapas. Nesse ano (2022), aconteceu um evento de graffiti só com mulheres na cidade onde moro, Itapevi (SP), o West Side Gallery.
Chamaram algumas artistas para participar e eu nunca tinha pintado um muro, mas fui convidada junto à Tuka e Wall para representar as artistas locais. Lembro que fiz tudo no pincel, achei que não ia conseguir finalizar, mas deu tudo certo. Esse evento foi muito importante nessa minha introdução no graffiti. Foi nele que eu tive contato com outras grafiteiras, me encantei por tudo e me aproximei mais da Tuka e da Wall.
Após a West Side, a Tuka, que já grafitava há mais anos, me ensinou a usar o spray; e a partir daí, formamos o Projeto Grafitar, onde oferecemos oficinas de graffiti para mulheres da região.
Hoje, na organização do projeto, somos cinco: eu, a Tuka, a Wall, a Mari Monteiro e a Kamaleoa. Eu sempre falo do privilégio que foi poder começar no graffiti num grupo de mulheres.
Você se lembra do seu primeiro trampo assinando como artista? Como foi a experiência?
Eu vou colocar como primeiro trampo de arte o muro que pintei nesse evento. Já tinha feito outros trabalhos antes, mas não me lembro ao certo do primeiro. Quando assinei o muro da West Side, foi muito surreal ver que eu tinha feito algo tão grande. Hoje, vejo que assinar aquela arte foi o começo de um sentimento de segurança que eu nunca tinha sentido antes, em relação às minhas criações.
Quais são suas inspirações por trás dos traços?
Bom, tudo ao meu redor vira inspiração. Mas minhas maiores referências são as mulheres com quem convivo, seja da minha família, amigas ou as artistas que sigo e interajo. Ando curtindo bastante também as grafiteiras latinas, piro na explosão de cores e formas que são as artes delas. Recentemente, percebi como os desenhos animados dos anos 90/2000 têm grande influência no que eu faço hoje, além de gibis – meu pai curte muito, então cresci vendo as artes da Turma da Mônica etc.
Como funciona o seu processo criativo?
Bom, antes de começar uma nova arte, eu pesquiso muitas referências, tenho várias pastas com os mais diferentes temas. Consumo o máximo que consigo dessa pesquisa inicial, e depois passo a ideia pro papel/tela, puxando da memória o que pesquisei. Tudo vira referência pra mim: um doce que vi na padaria, a forma de uma planta que nasceu na parede, uma mancha de tinta no chão. A cabeça não para nunca.
O que mais te encanta/chama atenção na arte?
Nossa, tantas coisas. Gosto de como a arte é democrática, todo mundo pode fazer independentemente da idade, do gênero ou da classe social. Gosto de como a arte é uma ferramenta de resistência e luta. Mas ultimamente o que anda me chamando atenção é esse espaço de liberdade que temos na arte. Ando fazendo uns trabalhos com oficina de graffiti para crianças e adultos, e é demais como todo mundo fica igual quando está pintando. Ficam felizes e orgulhosos por conseguirem pintar com o spray. A arte é realmente transformadora e uma ferramenta muito potente.
Como está sendo sua trajetória ao lado da arte?
É uma mistura de sentimentos e eu estou curtindo muito experimentar todos eles. Posso resumir toda essa experiência como algo libertador. O graffiti deu um giro de 380° na minha vida, me trouxe muito conhecimento próprio e confiança. Antes, eu não entendia o porquê desenhava; com o graffiti, tudo fez sentido, e essa consciência de ser artista me deixou muito mais próxima da minha família e amigos. Eu recebo muito apoio deles e isso me deixa com mais vontade de pintar e criar. Está sendo um período muito legal também de conexão com outras pessoas, ando conhecendo bastante gente e a troca nesses encontros é demais.
Para conhecer mais sobre o trampo da artista, corre no Instagram: instagram.com/lelex.arte/.