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24 de novembro, 2023 ARTISTA EM DESTAQUE

No alto das montanhas, no coração da arte

Ela trilhou seus primeiros passos na periferia de São Paulo, moldando sua própria narrativa artística. Impulsionada pela paixão pelo montanhismo, é nas alturas que Dri Ferreira encontra o ritmo para sua inspiração.

A imponência das montanhas, o aroma envolvente da natureza, a trilha sonora que embala suas caminhadas: cada detalhe inspira a artista a criar novas obras.

Entre um morro e outro, num breve respiro da agitação diária, a artista compartilhou sua história com a gente. Vem conhecer um pouco desse universo!

 

Como essa sua história com arte e cultura começou?
Desde criança, sempre gostei de desenhar. Nascida na periferia de Sampa, cresci cercada por arte de rua, cursei Artes Visuais por meio do programa Prouni, trabalhei na Bienal de Arte e fui professora. Tudo o que eu acreditava como arte, ensinei por 10 anos para turmas de escolas públicas e uma ONG no bairro de Itaquera.

Acessei todos os espaços que respiram arte e me criei sob forte influência de políticas públicas de arte e cultura. Num certo dia, dando rolê no Vale do Anhangabaú, conheci a POSCA, através de um artista de rua. Foi aí que minha chave virou em relação ao material de pintura e instrumento de identidade. Minha personalidade artística estava nascendo.

Como você descreveria o seu estilo de arte?
Ele é autêntico por estar diretamente ligado ao meu estilo de vida com o montanhismo. São traços das montanhas brasileiras e as cores são moldadas conforme o que encontro em cada viagem.

O fato de viajar e subir montanhas me permite evoluir enquanto artista desse meio. É um estilo que lá fora, onde a cultura de montanha é bem mais popular que no Brasil, as pessoas chamam de Mountain Art. Por isso, as pessoas ainda acham meu trabalho diferente e acreditam que as montanhas são invenções da minha mente, quando, na verdade, são reais, mas no meu próprio estilo.

Quais são suas inspirações?
As principais fontes de inspirações vêm das montanhas, natureza em geral e livros, como “Na Natureza Selvagem”. Parques nacionais, unidades de conservação, viagens que percorro, artes de cada lugar que visito, minha ligação emocional com os clientes e suas histórias, o mundo geek e a história da arte acabam conectando meus mundos.

E a sua ligação com as montanhas, de onde vem?
Em 2016, eu fiz minha primeira viagem fora do Brasil com destino ao Chile. Aos 23 anos, eu estava vendo a Cordilheira dos Andes pela primeira vez. Não fiz trilha e nem escalei, mas quando voltei para o Brasil esse foi meu mundo: acampei, percorri longas distâncias, fiz travessias e dormi nos pontos mais altos da Serra da Mantiqueira (sou extremamente apaixonada). Em 2018 voltei a viajar para fora, desta vez ao Peru e, sim, escalei uma montanha de 5.000 m de altitude, foi onde meu trabalho começou a nascer!

Como ela e sua arte conversam?
O estilo de vida nas montanhas é um mundo curioso, alternativo e, sobretudo, aventuroso. A busca por adrenalina, endorfina e minimalismo é fascinante para meus olhos. Eu digo que pinto com a alma quando crio uma arte, é como colocar para as pessoas tudo aquilo que eu vivi. Sinto que, sem a vida que escolhi ter, não faria sentido eu pintar. O meu estilo artístico não nasceu após eu terminar a faculdade, nasceu enquanto eu estava lá no alto das montanhas vendo o que eu poderia criar e contar uma história através da arte.

Você cria em capacetes, canecas… Conta pra gente como é sua relação e escolha das superfícies.
O primeiro item que eu pintei com POSCA foi meu capacete, ele foi desenhando com algumas das montanhas que eu tinha forte desejo conhecer. Levei o objeto pra minha expedição do Peru, achei diferente pintar algo em uma superfície porosa e que não era “plana”, por assim dizer. Estava carregando comigo uma arte na cabeça que possuía muitos significados, o capacete estava me dando boas vibrações. Então, pensei em personalizar outros itens mais tarde, como cafeteiras e canecas, durante a pandemia – onde todos os trilheiros e montanhistas estavam em casa sem poder sair. Escolher uma montanha e pintar em um objeto/superfície como estava me dando vida, uma vida selvagem dentro de casa. Essa foi a grande sacada de itens de uso nas montanhas com significados reais. Amamos café na montanha, então por que não ter uma obra de arte que pode ir ao fogo? O capacete é a mesma coisa, ele é um item de segurança na escalada de montanhas e personalizá-lo com montanhas é único.

Eu escolhi essas superfícies como tela enquanto artista, e a POSCA foi a melhor ferramenta para mim. Ao longo de quatro anos, fui dominando e criando técnicas que me permitem pintar numa cachoeira, rio, alto de uma montanha. Eu já escalei, por exemplo, o Dedo de Deus, uma das escaladas clássicas do RJ (detalhe que essa montanha está até na bandeira do estado) e pintei um capacete lá no topo, sob o frio que as condições de ventania davam. Mas tudo isso sendo possível pelo fato da POSCA ser ótima em secagem e mesclagem de cores. A ferramenta potencializou minha vida.

Que recado você deixaria pras pessoas que nos acompanham nas redes?
O mundo é incrível se compartilharmos ele através da nossa arte. Poder compartilhar o meu me deixa muito feliz. Há tanta beleza quando vem de dentro e poder ter como expressar isso nos torna únicos.

Para conhecer de perto o trampo da Dri, corre no Instagram dela: instagram.com/drilifyart