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23 de fevereiro, 2024 ARTISTA EM DESTAQUE

Uma decisão diária

A nossa artista da vez, Giovanna — ou Girassolle, como gosta de ser chamada — tem uma conexão especial com a arte desde pequena. Nascida e criada no bairro do Jaçanã, na Zona Norte da capital paulista, o papel e as cores estão presentes na sua vida e em sua relação familiar desde a infância.

No entanto, o que era apenas uma brincadeira de criança acabou virando um amor para a vida inteira. Confira a conversa que tivemos com a Gi!

Quando e como começou a sua história com a arte?

Profissionalmente, hoje sou artista visual e muralista autônoma, mas desenhar e colorir é uma atividade presente em minha vida desde a infância junto com meu irmão mais velho, apenas por diversão mesmo. Em meados de 2016, ainda no Ensino Médio, um amigo, que também desenhava, me viu desenhando durante uma aula na escola onde estudávamos e me perguntou se eu não tinha interesse em estudar graffiti com ele, em um curso/ateliê de Arte Urbana oferecido pela Fábrica de Cultura Jaçanã. Fábricas de Cultura são projetos desenvolvidos pelo Governo do Estado de São Paulo, sendo espaços de acesso gratuito que disponibilizam diversas atividades artísticas para diferentes idades.

Com muita felicidade, aceitei o convite. Nunca tinha me passado pela cabeça a possibilidade de estudar Artes de alguma forma. Era naturalizado para mim o ato de desenhar por diversão e passatempo, sem muitas influências externas, o que acabava sendo também solitário, confesso, mas não necessariamente ruim. Comecei o curso por curiosidade e me apaixonei!

Foi através dessa experiência em classe, estudando Artes Urbanas, que tive meu primeiro contato com as canetas POSCA. De coração? Eu nunca tinha usado um material tão bom antes! Lá eu também tive minhas primeiras experiências utilizando tinta spray e fiz meus primeiros muros ao lado da turma que estudava comigo. Foi, de fato, a descoberta de um novo universo totalmente prazeroso de se conhecer. Foi muito especial por conseguir me conectar tão verdadeiramente com algo que faz meu coração feliz. Mudou muito minhas percepções sobre Arte poder fazê-la ao lado de outras pessoas, trocar ideias, ter novos pontos de vista e compartilhamento de experiências que só vieram para fortalecer.

Nessa mesma época, eu estava finalizando o Ensino Médio e pensando qual profissão seguir. Antes de tentar o Ensino Superior, eu fiz cursinho pré-vestibular e, simultaneamente, eu ainda estava estudando no ateliê de Arte Urbana. Já fazia trabalhos e caderninhos artísticos para vender e ter meu dinheiro. Algumas pessoas que estudavam comigo e parentes consumiam minha arte, e eu lembro até hoje a sensação de ter meus primeiros retornos através do que eu mesma fazia.

Em 2019, prestei vestibular e fui aprovada para estudar Comunicação Visual e Design Gráfico pela ETEC (Escola Técnica Estadual), aqui em São Paulo. Foi a melhor coisa que já me ocorreu, como uma grande evolução intelectual e pessoal mesmo, porque neste momento eu já estava certa de que meu sonho era seguir na Arte. Embora ainda estivesse amadurecendo a ideia e me moldando profissionalmente, não conseguia e nem queria imaginar outros caminhos para mim. Tive professores espetaculares, conheci e tenho conhecido pessoas incríveis, passei a frequentar museus, exposições, eventos e alimentar esse sonho dentro da minha cabeça com maior frequência. Com muita emoção, hoje estou aqui escrevendo sobre essa jornada. É uma honra imensa para mim.

 

Como funciona seu processo de criação?

Minha linha de trabalho contempla diferentes temáticas e eu busco fazer composições desses elementos nas artes que faço, sendo: arte abstrata, geométrica, representações da natureza (fauna e flora), ornamentos e representações diversas com silhueta.

Para cada arte tem um processo particular. Quando quero, por exemplo, desenhar uma flor específica, eu busco referências para entender a estrutura daquela flor, para ter uma base e conseguir manter a inspiração fiel no resultado, adaptando sempre para minhas características de criação.

Quando desejo fazer uma arte abstrata, que na maioria das vezes é bastante colorida, eu busco compreender quais cores farão mais sentido para o resultado que quero e monto uma paleta. Depois de trabalhar com todas as cores que escolhi, acrescento detalhes por cima utilizando canetas pretas, com intenção de contraste. Especialmente a arte abstrata, para mim, é algo que flui intuitivamente.

Qual artista você mais admira?

Minha maior admiração é pela artista plástica Yayoi Kusama. Me inspiro muito em suas criações. Sou apaixonada pelas repetições de elementos, surrealismo e expressionismo abstrato presentes em suas obras.

Vejo a arte como um caminho fundamental para a ressignificação das dificuldades humanas, principalmente de nossas dores emocionais. Em diversos episódios angustiantes, foi através da arte que pude enxergar minha vida e os acontecimentos de outra forma, me fortalecendo e buscando diferentes possibilidades de cuidado. Não romantizo sofrimentos e a história de Yayoi Kusama é muito pesada, sobretudo se analisarmos seu local de origem (Japão) e o contexto histórico do ano em que ela nasceu (1929).

Apesar de todo sofrimento enfrentado, ela nunca cogitou desistir da arte, perpetuando até os dias de hoje um legado incrível e cheio de realizações belíssimas reconhecidas mundialmente.

 

Quais são suas principais influências artísticas?

Temas relacionados à Biologia; movimento do abstracionismo; ilustrações feitas com tinta nanquim; expressionismo; pesquisas científicas; arte como um processo de revitalização e presença de vida para os ambientes; pontilhismo; elementos da natureza.

Vimos que você trabalha com diversos tipos de arte e em diferentes superfícies. Por qual delas você começou? Como foi o processo?

Minhas primeiras artes foram em papel, utilizando lápis de cor e tinta nanquim. Inicialmente, eu fazia com maior frequência representações de flores, ramos de plantas e astros (Sol, Lua e planetas). Desses primeiros estudos com nanquim, a partir de um Sol que eu ilustrei e compartilhei no Instagram, surgiu minha primeira oportunidade de fazer um mural artístico. Foi a primeira vez que desenhei profissionalmente em uma parede e exclusivamente utilizei canetas POSCA. Foi incrível! Confesso que no começo fiquei um pouco insegura, pela proporção e pela responsabilidade de estar fazendo uma arte na casa de outra pessoa, mas tudo fluiu tão bem que eu não parei mais, partindo para outras oportunidades e superfícies diferentes.

 

Qual é a sua caneta POSCA favorita para o seu tipo de arte?

Todas (risos)! Minha caneta POSCA favorita é a PC-5M (ponta redonda média), tinta preta.

 

O que a sua arte significa para você?

Meu refúgio. Uma decisão diária. Um grande amor que tenho na minha vida, algo que não consigo me imaginar sem. Uma caminhada longa, cheia de desafios, que me traz grande crescimento todos os dias. Admiro quem sou e tudo que conquistei através da arte.

Quais são os seus planos para os seus trampos no futuro?

Me dedicar bastante ao graffiti e ao muralismo, tenho feito estudos na rua sempre que possível, utilizando tinta spray com mais frequência e buscando adaptar minha arte em diferentes acabamentos de parede. Meu maior sonho nessa linguagem é um dia poder pintar uma empena, ver uma arte minha bem grandona, mas principalmente ter essa experiência tão ampla de trabalho, diferente de tudo que já fiz até hoje.

Gostou do nosso bate-papo com a Girassolle? Conheça mais de sua arte em @girassolle.